Como bem versa Ragazzo (2025, p. 86), com a capacidade de pagamento dos brasileiros cada vez mais comprometida, a linha tênue entre o endividamento e a inadimplência se torna mais próxima.
É evidente que a vulnerabilidade financeira das famílias cresce à medida que o acesso ao crédito se torna mais restrito e oneroso, cenário que afeta diretamente trabalhadores que dependem de créditos trabalhistas reconhecidos judicialmente, mas ainda indisponíveis.
O que é a inadimplência?
A inadimplência pode ser entendida como a incapacidade de cumprir obrigações financeiras dentro dos prazos estabelecidos, representando o estágio crítico de um processo contínuo de endividamento.
É o desfecho de um ciclo em que a falta de liquidez e a morosidade no recebimento dos créditos trabalhistas aprofundam o risco financeiro e a instabilidade do reclamante.
Ou seja, não se trata apenas de deixar de pagar uma dívida, mas de um desequilíbrio progressivo que compromete a renda e a qualidade de vida. Esse processo gera efeitos colaterais como restrição de crédito, perda de poder de compra e deterioração da saúde mental e emocional do trabalhador.
Cenário da inadimplência no Brasil
De acordo com dados recentes da Confederação Nacional do Comércio (CNC) — e em linha com o diagnóstico feito por Ragazzo — o número de famílias endividadas ultrapassou 78% em 2025.
Nesse sentido, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também aponta que mais da metade dos lares brasileiros destina parte significativa de sua renda apenas ao pagamento de dívidas, muitas delas com juros elevados.
No contexto trabalhista, Ragazzo (2025) destaca que milhões de brasileiros aguardam por anos a conclusão de processos que poderiam garantir recursos suficientes para restabelecer o equilíbrio financeiro.
A demora na liberação desses valores, somada às dificuldades de acesso a crédito justo, transforma o trabalhador em um devedor involuntário, sujeito à inadimplência e ao desgaste emocional.
Possíveis causas da inadimplência no Brasil
Eventos macro e externos
Fatores econômicos e estruturais desempenham papel central no agravamento da inadimplência.
O aumento das falências empresariais, a retração do crédito, a alta dos juros e a desvalorização real da renda têm elevado o custo de vida. Ragazzo, em sua obra, observa que a inadimplência se intensifica quando o trabalhador, mesmo detendo créditos reconhecidos judicialmente, é impedido de acessá-los devido à morosidade do sistema judicial.
Assim, a falta de liquidez torna-se um elemento de vulnerabilidade sistêmica, não apenas individual.
Eventos internos
Além dos fatores macroeconômicos, há causas internas relacionadas ao comportamento financeiro. A ausência de planejamento, o consumo impulsivo e a falta de educação financeira colaboram para o endividamento progressivo.
Entretanto, como lembra Ragazzo, é preciso reconhecer que a inadimplência do trabalhador não decorre apenas de escolhas pessoais equivocadas, mas de uma estrutura que o impede de exercer plenamente sua autonomia patrimonial.
A cessão de créditos como uma solução para inadimplência
Nesse contexto, a cessão de créditos trabalhistas não é apenas uma solução pontual, mas um instrumento com verdadeiro efeito transformacional.
A liquidez imediata que o trabalhador obtém ao ceder seu crédito pode gerar um alívio financeiro direto, aumentando sua capacidade de pagamento e reduzindo a pressão do acúmulo de dívidas.
Ragazzo (2025) explica que a antecipação de valores reconhecidos judicialmente permite restaurar a autonomia financeira do trabalhador e oferecer previsibilidade ao planejamento econômico familiar. Assim, a cessão de créditos trabalhistas se apresenta como alternativa legítima à dependência de empréstimos onerosos e linhas de crédito predatórias.
Além do impacto econômico, o autor destaca os efeitos psicológicos positivos da liquidez e afirma que a incerteza sobre o recebimento do crédito gera ansiedade e sofrimento, enquanto a antecipação devolve ao trabalhador o controle sobre sua vida financeira. Desse modo, a cessão de crédito pode ser vista como uma ferramenta de dignidade econômica e de redução da inadimplência estrutural.
Conclusão
A inadimplência, como fator de maior risco, vai além do simples não pagamento de dívidas: ela simboliza o colapso de um sistema que priva o trabalhador de acesso tempestivo aos recursos que lhe pertencem.
Diante desse cenário, a cessão de créditos trabalhistas surge como alternativa eficiente para restabelecer a liquidez, reduzir o endividamento e fortalecer a autonomia financeira dos reclamantes.
Mais do que um mecanismo jurídico, trata-se de um instrumento de democratização econômica, capaz de mitigar vulnerabilidades e promover justiça social.
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Referências
RAGAZZO, Carlos. Cessão de créditos trabalhistas, autonomia do trabalhador e democratização do acesso ao crédito. São Paulo: Editora JusPodivm, 2025.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO (CNC). Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic): relatório anual 2025.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Panorama do endividamento das famílias brasileiras: relatório técnico 2025. Brasília: Ipea, 2025.
CONJUR – CONSULTOR JURÍDICO. Gargalo da Justiça do Trabalho é a fase de execução. São Paulo, 2024.