Por Laura Riffel Vanti
A Quarta Revolução Industrial e os desafios da advocacia
Vivemos tempos de mudanças rápidas e profundas. Segundo Klaus Schwab, autor de A Quarta Revolução Industrial, o termo “revolução” representa uma transformação radical na forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, sendo que, desde a primeira Revolução Industrial – iniciada no século XVIII – as mudanças tecnológicas impactam diretamente o modo como a sociedade se organiza.
Hoje, estamos imersos na Quarta Revolução Industrial, marcada por avanços como Inteligência Artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem. E uma das ferramentas que tem ganhado cada vez mais destaque é o ChatGPT, criado pela OpenAI. Esse cenário levanta um questionamento inevitável: Os serviços de advocacia estão com os dias contados diante da operacionalização da inteligência artificial?
Chat GPT: Inimigo ou aliado do advogado?
O diferencial do ChatGPT em relação a ferramentas tradicionais de pesquisa, tais como o Google, está na capacidade de contextualização dos textos, com a linguagem natural. A respeito, o ChatGPT não apenas lista informações, mas também elabora respostas que simulam conversa real. Isso o torna útil para diversas profissões, inclusive a advocacia.
Sabemos que o trabalho do advogado envolve uma série de tarefas, como as principais:
– Redigir petições e contratos;
– Analisar documentos e provas;
– Atender clientes;
– Participar de audiências e negociações.
Entretanto, boa parte dessas atividades é repetitiva e pode ser automatizada — e é aí que a IA entra. O ChatGPT já consegue, por exemplo, elaborar minutas jurídicas básicas com base em comandos simples. Isso é especialmente útil em escritórios de volume, onde há demandas padronizadas e alto número de processos.
O avanço tecnológico vai aposentar o advogado?
Um dos maiores questionamentos que existem em todas as profissões é a sua obsolescência. No entanto, apesar do avanço impressionante da tecnologia, esta ainda possui limitações. Embora a IA seja eficiente em executar tarefas bem definidas, ela não possui criatividade, julgamento moral nem senso crítico — elementos essenciais na prática do Direito.
O que dizem os especialistas?
Em seu TED Talk, “3 Myths About the Future of Work (and Why They’re Not True)”, o economista Daniel Susskind desmistifica algumas ideias comuns sobre a tecnologia a partir de três vieses:
1. O mito do exterminador: a crença de que as máquinas vão tomar todos os empregos.
2. O mito da Inteligência Artificial perfeita: como se as máquinas fossem melhores que humanos em tudo.
3. O mito do “nada vai mudar”: a ilusão de que a tecnologia não afetará algumas profissões, como a advocacia.
Já Anthony Goldbloom, em “The Jobs We’ll Lose to Machines and the Ones We Won’t”, explica que algoritmos só fazem o que foram programados para fazer. Eles são ótimos em tarefas com padrões definidos, mas falham em problemas novos que exigem soluções criativas — algo muito comum no Direito.
O ChatGPT pode ajudar o Advogado — mas não substituí-lo
O uso da IA pode ser um ganho enorme em produtividade. Tarefas como buscas jurisprudenciais, elaboração de contratos-padrão e até rascunhos de petições simples podem ser otimizadas com o seu auxílio. Isso economiza tempo e permite ao advogado focar em atividades mais complexas.
Contudo, é preciso cautela: a IA não possui capacidade interpretativa, não compreende nuances culturais e sociais, e não responde por seus atos. Isso significa que, em decisões que envolvem ética, valores humanos ou criatividade jurídica, o advogado é e continuará sendo insubstituível.
A advocacia continua essencial, mesmo com a IA
A Inteligência Artificial, como o ChatGPT, veio para transformar a forma como trabalhamos e não para eliminar o papel do profissional do Direito. Ferramentas tecnológicas serão cada vez mais integradas à prática jurídica, mas sempre como instrumentos de apoio e não como substitutos.
Até o momento, nenhuma tecnologia é capaz de resolver questões jurídicas inéditas de forma autônoma. A atuação do advogado, com sua visão crítica, análise estratégica e habilidade em lidar com conflitos humanos, continua sendo indispensável.
O futuro da advocacia não é o fim da profissão, mas sua reinvenção. E ela será humana, criativa e essencial.
Referências
– Goldbloom, Anthony. “The jobs we’ll lose to machines – and the ones we won’t”, 2016. Disponível em: https://www.ted.com/talks/anthony_goldbloom_the_jobs_we_ll_lose_to_machines_and_the_ones_we_won_t?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare.
Acesso em: 09 abr. 2025.
– Lund, Brady; Wang, Ting. “Chatting about ChatGPT: how may AI and GPT impact academia and libraries?”, 2023. DOI: https://doi.org/10.1108/LHTN-01-2023-0009.
Acesso em: 09 abr. 2025.
– Schwab, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
– Susskind, Daniel. “3 myths about the future of work (and why they’re not true)”. Disponível em: https://www.ted.com/talks/daniel_susskind_3_myths_about_the_future_of_work_and_why_they_re_not_true.
Acesso em: 09 abr. 2025.
– Wunsch, Guilherme; Fincato, Denise Pires. “Subordinação Algorítmica: Caminho para o Direito do Trabalho na Encruzilhada Tecnológica?”, 2020. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/181114.
Acesso em: 09 abr. 2025.
– CRÉDITOS DA FOTO: Canva